Está ocorrendo, até dia 09/10 (sábado, às 13h) as eleições para o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Unicamp. A entidade, com seu fundamental papel de vanguarda da luta estudantil, mobilizando, politizando e organizando os estudantes, é de extrema importância política. Entretanto, o que se vê no DCE da Unicamp há anos é um completo imobilismo por parte das gestões por um lado e, por outro, um distanciamento da realidade estudantil e das pautas da comunidade acadêmica. Isso ocorre pois as gestões e chapas concorrentes estão vinculadas a organizações político-partidárias, em que comumente a luta estudantil é deixada de lado para atender suas agendas eleitoreiras.
Nos últimos dois anos, a gestão da União da Juventude Socialista (UJS-PCdoB), por sinal empossada sem atingir o quórum, abandonou o DCE e deixou de pautar questões fundamentais do Movimento Estudantil (ME) no período, como a manutenção e ampliação da Moradia Estudantil, e não ergueu o dedo para contrapor a imposição da Educação a Distância (EaD) através do Ensino Remoto Emergencial (ERE). Assim, no momento de maior desmobilização do ME, planejada com a imposição do ERE, o DCE se mostrou paralisado frente aos ataques à gratuidade universitária e ao seu processo de precarização e privatização. Com Conselhos de Representantes de Unidade (CRU), reuniões abertas entre os CAs e o DCE, não divulgados para a comunidade e Assembleias mal organizadas, não é de se surpreender que a maioria dos ingressantes de 2020 e 2021 não conheçam o Diretório.
Neste ano, as duas chapas concorrentes são a “Canto de Revolta” e “É tudo para ontem”. Enquanto a “Canto de Revolta” é composta majoritariamente pelo Faísca Revolucionária, a “É tudo para ontem” é integrada pelas diversas correntes do PSOL e coletivo Acadêmicos Indígenas.
Em relação aos programas, ambas as chapas concorrentes falham em entregar propostas concretas. Para um leitor menos familiarizado com as práticas (insípidas) desses grupos, o discurso pode ser atraente, mas a verdade é que se tratam de palavras vazias. Por exemplo, no programa da chapa “Canto de Revolta”, falam de lutar por permanência estudantil, por assistência psicológica, por espaços democráticos, etc. Ok, pautas justas. Mas como? Quais são as ações, para além das palavras bonitas? Defendem, também, que a gestão do DCE seja por proporcionalidade dos votos, dada a necessidade de “unidade” na luta. Unidade sem princípios tem como funcionar? Se a chapa concorrente fosse do MBL ou da UJS, essa unidade ainda seria defendida? Além disso, assim como têm sido desde o início da pandemia, nada a respeito da EaD e a panaceia de Ensino Híbrido mesmo após o retorno das aulas presenciais foi citado nesse programa.
Ainda, o programa da chapa “É Tudo Pra Ontem!” traz a frase “vem conosco construir um novo movimento estudantil na UNICAMP!”. Apesar do trecho afirmar que este é um “novo movimento estudantil”, este é composto pelos mesmos grupos eleitoreiros (Afronte, Juntos!, Vamos À Luta), com as mesmas práticas, que atuam há anos no ME. Ainda que melhor estruturado, o programa desta chapa também carece de propostas mais concretas acerca da Universidade. O que eles trazem de mais prático é a participação nos atos “Fora Bolsonaro”, que ultimamente não têm passado de desfiles carnavalescos cobrando pelo impeachment, como se todas as mazelas do povo fossem se resolver milagrosamente com a saída de Bolsonaro e entrada de Mourão na gerência de turno do Estado.
A partir dessa análise, declaramos que, enquanto Centro Acadêmico dos Estudos de Química, não iremos apoiar nenhuma das chapas concorrentes nessa eleição para o DCE da Unicamp. Recomendamos que a comunidade estudantil do IQ vote nulo ou branco, de forma a declarar a insatisfação com ambas as chapas concorrentes. Defendemos a existência do DCE enquanto importante espaço de organização estudantil, principalmente tendo em vista a importância desta frente aos ataques que a universidade pública vem sofrendo. Porém, acreditamos que a gestão deveria ser independente, combativa e atuar colocando os interesses estudantis acima de agendas eleitoreiras, pois não seremos coniventes com políticas partidárias que buscam tirar proveito do nome da universidade em sua corrida eleitoral. Defendemos que o DCE deva existir em defesa intransigente da universidade pública, autônoma, gratuita, democrática e a serviço do povo.
Gestão Primavera.
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